Monsenhor Alfred Xuereb revela detalhes da personalidade de Francisco e comenta sua rotina na Casa Santa Marta
Nesta quinta-feira, 13, Papa Francisco
celebra um ano de sua eleição à Cátedra de Pedro. Entre as pessoas que
acompanharam de perto o Santo Padre, nesses doze meses, está seu
secretário particular, monsenhor Alfred Xuereb, natural de Malta e recentemente nomeado pelo Papa como secretário-geral da Secretaria para a Economia.
Em entrevista à Rádio Vaticano,
monsenhor Xuereb comenta este primeiro ano com Francisco. Ele recorda o
dia do fim do pontificado de Bento XVI e seus primeiros dias com
Francisco, além de comentar traços da personalidade deste e seus hábitos
cotidianos na Casa Santa Marta.
Mons. Xuereb - Eram
momentos especiais, que, certamente, ficarão na história. Um Papa que
deixa o seu pontificado. Desde o dia 28 de fevereiro, o último dia do
pontificado do Papa Bento, quando deixamos definitivamente o Palácio
Apostólico, até o dia 15 de março, portanto dois depois da eleição do
novo Papa, eu permaneci com o Papa emérito em Castel Gandolfo para
fazer-lhe companhia e também ajudá-lo no seu trabalho de secretaria. O
momento do afastamento do Papa Bento foi para mim muito doloroso, porque
tive a sorte de viver com ele durante cinco anos e meio, e deixá-lo,
afastar-me dele foi um momento muito difícil. As coisas foram muito
rápidas, eu não sabia que, justamente naquele dia, deveria fazer as
malas e deixar Castel Gandolfo, deixar também o Papa Bento. Mas do
Vaticano pediram que me apressasse, que fizesse as malas e fosse para a
Casa Santa Marta, porque o Papa Francisco estava, até mesmo, abrindo as
correspondências sozinho: não tinha um secretário que o ajudasse.
Naquela manhã, passei várias vezes na capela para ter uma luz, porque
me sentia um pouco confuso. Porém, estava certo, tinha a clara sensação
de que estava sendo guiado do Alto e tinha a percepção de que algo de
extraordinário estava acontecendo também para a minha vida. Depois,
entrei chorando no escritório do Papa Bento e, com um nó na garganta,
tentei dizer-lhe o quanto estava triste e quanto era difícil separar-me
dele. Eu lhe agradeci por sua benévola paternidade. Confiei-lhe que
todas as experiências vividas no Palácio Apostólico com ele me ajudaram
muito a olhar melhor “para as coisas lá de cima”. Depois, ajoelhei-me
para beijar-lhe o anel, que não era mais o do Pescador, e ele, com olhar
de paternidade, de ternura, como ele sabe fazer, se levantou e me
abençoou.
Qual a lembrança do seu primeiro encontro com o Papa Francisco?
Mons. Xuereb- Pediu-me
que entrasse no seu escritório, acolheu-me com sua já famosa
cordialidade, e devo dizer que fez uma brincadeira – se assim posso
defini-la – de Papa! Segurava uma carta e com um tom sério me disse:
“Ah, mas aqui temos problemas, alguém não falou muito bem de você!”. Eu
fiquei mudo, mas depois entendi que se referia à carta que o Papa Bento
lhe enviou para o informar que tinha me dispensado e que podia me chamar
a seu serviço. Nesta carta, o Papa Bento teve a bondade de listar
algumas das minhas qualidades. Depois, o Papa Francisco me convidou a
sentar-me no sofá, e ele a meu lado, em uma cadeira. Pediu-me – com
muita fraternidade – para auxiliá-lo nesta dura tarefa. Por fim, quis
saber qual é a minha relação com os superiores e com as outras pessoas
de certa responsabilidade. Respondi-lhe que tenho uma boa relação com
todos, pelo menos no que me diz respeito.
O que o impressiona na personalidade do Papa Francisco, tendo o privilégio de viver todos os dias ao lado dele?
Mons. Xuereb - A sua
determinação. Uma convicção que estou certo lhe vem do Alto, porque é um
homem profundamente espiritual, que busca, na oração, a inspiração de
Deus. Por exemplo, a visita a Lampedusa ele decidiu, porque, depois de
entrar algumas vezes na capela, lhe veio em continuação esta ideia: ir
pessoalmente encontrar essas pessoas, esses náufragos, e chorar os
mortos. E quando ele entendeu que essas ideias lhe vinham à mente várias
vezes, então estava certo de que Deus queria esta visita. E a realizou
mesmo com muito tempo para prepará-la. O mesmo método ele usa para a
escolha das pessoas que chama para colaborar de perto com ele.
O Papa Francisco parece incansável em seus encontros, nas audiências. Como vive o seu dia a dia, na Casa Santa Marta?
Mons. Xuereb -
Acredite, ele não perde sequer um minuto! Trabalha incansavelmente. E
quando sente a necessidade de fazer uma pausa, não é que fecha os olhos e
não faz nada: senta-se e reza o terço. Creio que reze, pelo menos, três
terços por dia. E me disse: “Isso me ajuda a relaxar”. Depois,
recomeça, retoma o trabalho. Recebe uma pessoa depois da outra; os
funcionários da portaria da Santa Marta são testemunhas. Escuta com
atenção e se lembra com extraordinária capacidade o que ouviu e viu.
Dedica-se à meditação logo cedo, pela manhã, preparando também a homilia
da Missa na Santa Marta. Depois, escreve cartas, faz ligações, saúda as
pessoas que encontra e se informa sobre a família delas.